Como nós sabemos, a Câmara de Condeixa, tem vindo a desenvolver junto com a Escola EB 2,3 Fernando Namora várias iniciativas inéditas e peculiares para a formação e desenvolvimento dos seus habitantes.
Desta vez, é um Jantar Poético, que se irá realizar na mesma escola, no dia 16 de Julho, pelas 21:00H. A todos que queiram e possam assistir, será um prazer para todos, eu incluida, que irei declamar um poema de Fernando Pessoa.
Levava eu um jarrinho
P’ra ir buscar vinho;
Levava um tostão
P’ra comprar pão;
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p’ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita…
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Para ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.
Fernando Pessoa, Quadras ao Gosto Popular
Quanto à divulgação, foi publicada a seguinte notícia que transcrevo:
"São sabores diferentes, servidos à hora de jantar. Mas não se come. Os alimentos são outros e dirigem-se ao espírito. Em causa está um “Jantar poético”, a realizar amanhã à noite, no restaurante “De ler e chorar por mais”, na Escola Secundária Fernando Namora, em Condeixa.
O encontro está marcado para as 21h00 e, ontem ao final da manhã, eram cerca de 90 os inscritos, o que garante, praticamente, lotação esgotada para o evento. «Só espero que as pessoas gostem», afirma Isabel Neves, formadora do Centro Novas Oportunidades, que funciona naquele estabelecimento de ensino, e responsável pela ideia. Ideia que, explica, nasceu de uma constatação quase óbvia. Ou seja, «as pessoas alimentam-se e toda a gente, com raríssimas excepções, gosta de comer». Mais, «as pessoas juntam-se para comer e quando comem falam sobre comida», ou seja, «apreciam o comer e a comida». Ao contrário, «não gostam de ler». A “leitura” de Isabel Neves levou-a a pensar e a agilizar soluções para contornar o “problema”, colocando a tónica no «alimento para o espírito», ou seja, na leitura. E daí a ideia de um “jantar poético”, onde os alimentos a servir constituem uma verdadeira incursão de descoberta pela literatura.
Isabel Neves, que conta com a ajuda de Justina Almeida e de outros professores e funcionários da escola, bem como de alguns adultos que já cumpriram o seu processo de avaliação e validação de competências, escolheu um conjunto de textos e de poemas. Uns, explica, têm directamente a ver com a comida em si, outros sugerem-na. Lembra, a propósito o célebre poema de Camões, “Leonor pela verdura, vai formosa e não segura…” que constitui uma evocação clara da água. Mas outros há, centrados no vinho, generoso ou nem tanto. A formadora refere ainda, a título de curiosidade, um retalho de “A Cidade e as Serras”, de Eça de Queirós, que retrata a generosa confecção de um delicioso arroz doce, preparado para festejar os anos do Jacinto com a preocupação de fazer uma coisa bonita e que, no final, ninguém acabou por comer.
Mas há mais, muito mais. As especialidades da casa são inúmeras e reúnem palavras de génios como Álvaro de Campos, Camões, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa ou Plabo Neruda. O cardápio inclui ainda Almeida Garrett, Andra Valladares, Cesário Verde, Eça de Queirós, Gilberto Mendonça Teles, Mário Quintana, padre António Vieira, Paulo Alexandre ou Teófilo Braga. Destaque ainda para a presença de dois nomes da música: Paulo Gonzo e Carlos Paião.
Forma diferente
de “servir” as palavras
«As pessoas vão ficar sentadas à mesa, confortáveis, e vão ouvir as palavras», seja sob a forma de leitura ou no quadro de uma amena conversação. Mas também há música, refere a responsável pela organização, sublinhando que esta conjugação harmónica entre os sons e as palavras foi a solução encontrada perante a impossibilidade de ter o elemento canto. Isto porque, explica, dois alunos estavam para cantar, mas face aos exames não foi possível. A solução passou por “encontrar” um coro, que canta o refrão das diferentes melodias, enquanto os restantes versos são simplesmente lidos. Ensaios já houve, a cargo do professor de música da escola, que orientou o grupo de funcionários e professores que integram este improvisado coro. Carlos Paião está entre um dos compositores escolhidos para esta actuação, que inclui, também a tradicional “Barca bela”, entre outro “receituário” poético-literário.
«É um jantar de palavras», resume Isabel Neves, que seleccionou um conjunto de trechos literários e poemas (populares ou mais eruditos) que “trabalham” a ideia de «comida e de comer». E a formadora reconhece que, mais do que fome de palavras ou de leitura, as pessoas têm fome de comida. «Toda a gente pergunta: e não se come nada?». A resposta linear é “não”, uma vez que se trata de alimentar o espírito e não de dar comida ao corpo, mas Isabel Neves sempre vai adiantando que estará «alguma cosia reservada para o final», que seja efectivamente possível “trincar”.
Isabel Neves acredita que, para além do alimento enriquecedor das palavras e das ideias, «as pessoas vão ficar surpreendidas», não tanto por não conhecerem os excertos que vão ser apresentados, mas, sobretudo, pelo envolvimento e integração que oferecem. «São trechos que as pessoas podem conhecer, mas de certeza não conhecem assim», sugere.
O evento tem início marcado para as 21h00 e a duração prevista é de uma hora. Todavia, «tudo depende da quantidade de palmas que quiserem bater», diz Isabel Neves, que pretende, como este evento, promover a leitura. “A poesia é para comer”, já dizia Natália Correia, e à poesia, junta-se, também, no jantar poético que amanhã vai ser servido, a prosa e as próprias canções." DIÁRIO DE COIMBRA do dia 15 de Julho de 2010.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
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